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Do casaco ao aquecedor, varejo estima impulso nas vendas e indústria se prepara para desovar estoque neste inverno

Setor têxtil prevê alta de 4% no período; na Mondial, aparelhos que aquecem o ar devem esgotar em 15 dias


Publicado em 03/07/2025

Sem El Niño ou La Niña, o frio chega com força neste ano, trazendo impacto direto para o varejo de moda, que há anos enfrenta prejuízos e sobras de estoque devido a uma sequência de invernos curtos e amenos. A expectativa agora é de retomada. Com a alta das vendas nas lojas, a indústria têxtil prevê comercializar 2,2 bilhões de peças nesta temporada, crescimento de 4% em relação a igual período do ano passado, e projeta faturamento de mais de R$ 109 bilhões, aumento de cerca de 7%.

As baixas temperaturas também impulsionam a venda de aquecedores. Na Mondial, por exemplo, a expectativa é vender todo o estoque de aparelhos nos próximos 15 dias. E não há perspectiva de reposição dos produtos antes de a primavera bater à porta, já que a fabricação depende da compra antecipada de componentes.

Além das baixas temperaturas, contribui para as projeções de receitas maiores no comércio o aumento de cerca de 10% no fluxo de consumidores nas lojas durante o inverno, quando comparado ao verão. Grandes redes como a C&A já notam esse movimento:

— O aumento da procura por peças de inverno já é percebido nas lojas físicas e no e-commerce, especialmente por jaquetas leves e tricô — disse João Souza, diretor comercial e de produtos da C&A.

Segundo ele, mesmo com esse crescimento, não foi necessário acionar novos fornecedores ou renegociar com parceiros. A empresa se antecipou à temporada de inverno de 2025 com base em um modelo de planejamento que combina leitura de tendências e inteligência de dados. Há um cruzamento de variáveis como sazonalidade, comportamento de compra e previsões meteorológicas para ajustar o mix de produtos.

Na South & Co de Copacabana, Zona Sul do Rio, o aumento no valor das vendas já é de 60% neste inverno, na comparação com o verão, com maior demanda por casacos corta-vento e moletons.

— Nos últimos quatro anos, o inverno não correspondeu às expectativas, e nós aqui conseguimos pensar em alternativas para alavancar as vendas. Investimos em algumas jaquetas diferentes, e estamos conseguindo vender também algo além do tradicional — conta Jorge Almeida, CEO do grupo.

O movimento mais forte também é percebido no Brechó Peça Rara, também em Copacabana. O gerente Raphael dos Reis de Assis conta que, em relação ao verão, houve um aumento de 30% nas vendas. Ele explicou que, no inverno, a necessidade de comprar mais de uma peça para vestir com o casaco é fator determinante para impulsionar o comércio. Além disso, destacou, o valor das peças de frio costuma ser maior.

— Falando do Rio de Janeiro, os produtos mais procurados são os moletons e casacos de tecido mais leve, como o linho. É um público muito específico, que compra esses produtos por necessidade — diz.

Segundo Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), tanto a indústria quanto o varejo vêm se adaptando às mudanças climáticas, com coleções menos marcadas por estações e mais voltadas para a meia-estação, incluindo peças de inverno com tecidos mais leves e versáteis.

Apesar do cenário de melhora nos índices de desemprego — em maio, a taxa foi a segunda menor da série histórica iniciada em 2012 — e de crescimento da renda, Pimentel avalia que o consumidor ainda enfrenta dificuldades, como alto endividamento, efeitos da inflação e o direcionamento de parte do orçamento para jogos e apostas on-line. Isso limita o crescimento do setor industrial.

— Há uma expectativa melhor de vendas no varejo, mas nada exuberante. No mais, a indústria não está captando tudo isso porque a importação está aumentando mais do que o consumo. Naturalmente, a gente captura uma parte desse crescimento, mas enfrenta restrições de comércio dos Estados Unidos para a China, que está procurando mercado, entre eles o Brasil — afirmou Pimentel, referindo-se à guerra tarifária de Donald Trump.

No ramo calçadista, a previsão é manter o patamar do ano passado, com 280 milhões de pares vendidos no inverno — que representa cerca de 30% do total anual.

Haroldo Ferreira, presidente-executivo da Abicalçados, que reúne fabricantes do setor, lembra que as coleções de inverno atualmente nas lojas foram apresentadas na última BF Show, em novembro passado, evento que teve resultado considerado positivo para o setor:

— É importante se ter inverno na época correta, com frio e chuva. O frio que está acontecendo nesta semana, assim como a chuva na semana passada, aquece o comércio e isso vai fazer com que as coleções de inverno sejam vendidas.

Lojistas corroboram a visão de Haroldo. Renato Mendonça, gerente da Magia dos Pés Copacabana, aposta no avanço das vendas nos próximos meses.

— Os calçados procurados no inverno são mais caros, e isso faz com que o valor arrecadado aumente. Nosso estoque está preparado para isso — explica.

No segmento de aquecedores, a procura não para de crescer.

— É um produto que vende rápido num frio intenso e não há tempo de repor estoques. Ano passado fizemos uma previsão e já sabíamos que o inverno seria fraco. Mesmo assim, veio mais fraco, então sobrou estoque. Agora foi o contrário. Como o frio é prolongado, as pessoas compram mesmo — diz Jacques Ivo Krause, diretor de Produto e Comércio Exterior do Grupo MK, fabricante das marcas AIWA e Mondial.

Segundo ele, o pico de procura dura pouco. Em agosto, os consumidores já param de comprar.

— Algumas pessoas compram para aquecer o banheiro antes de tomar banho, outras compram modelos melhores para quem está parado vendo TV. Sessenta por cento são modelos por resistência, que são mais econômicos e aquecem rapidamente.

Fonte: Agência O Globo